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Renan Molin: Designer e diretor de arte, do Brasil para NY – PARTE 02

Renan foi o único brasileiro a trabalhar na campanha de eleição de Barack Obama em 2008

3 de fevereiro de 2021

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Ana Carolina Bueno

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Anderson Antikievicz Costa

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Renan Molin é catarinense, da cidade de Capinzal, com uma infância predominantemente rural e rodeada de culturas diversas, o que ajudou a criar um repertório visual inusitado e muito rico. Desde a sua adolescência, ele já caminhava pelo mundo do design e da propaganda, então, cursar design foi o caminho “mais natural para unir tudo isso”, como afirma Renan. Durante o curso, ele se aprofundou também em estudar os processos que envolvem a publicidade e como tudo que existe neste mundo capitalista é criado para a venda. Atualmente, depois de tanta bagagem, Renan é Head of Art na Grey New York – Grey Group é uma agência global de publicidade e marketing com sede em Nova York, que está no mercado desde 1917, atualmente com 432 escritórios em 96 países. Desde 2016 Renan possui também, junto com o sócio Lipsio Carvalho, uma marca de mochilas e artigos de couro para viagem, a Beatnik & Sons (marca de design brasileiro que produz mochilas, bolsas, malas e acessórios de viagem atemporais).

Dentre seus feitos, Renan fundou a agência Taste em Curitiba, que explora a criatividade e originalidade como fundamentos em suas campanhas, que tem como alguns de seus clientes MTV, Renault e O Boticário. Trabalhou por três anos e meio na ALMAP BBDO, como diretor de arte sênior em clientes como Havaianas, HP, C&A, Getty Images, VISA e novamente O Boticário.

Além disso, em 2008, Renan Molin, foi o único artista brasileiro convidado a participar da campanha presidencial que elegeu Barack Obama como o primeiro presidente negro do Estados Unidos. A escolha se deu quando Scott Thomas conheceu o trabalho de Renan por meio da publicação de um capítulo sobre o designer no livro Graphic Designers of America da editora alemã DAAB. Com isso, ele foi escolhido ao lado de 99 artistas gráficos do mundo todo para integrar a equipe do projeto Designing Obama. A contribuição de Renan foi o pôster All Colors Together.

Renan Molin

Confira a segunda parte da entrevista que Renan Molin concedeu a Ana Carolina Bueno, Anderson Costa e Maria Raquel Silva para o 360on.

360on > Poderia nos falar um pouco sobre seu processo criativo? Você é do tipo disciplinado, focado no planejamento, ou é mais intuitivo e caótico, e procura não planejar tanto?

Renan Molin > Meu processo é caótico. Eu nunca sei exatamente por onde começar e isso é assustador. No fim dá tudo certo, mas eu ainda não estabeleci uma ordem no caos.

 

360on > Que tipo de informação você usa para compor seu repertório? Que produções têm chamado sua atenção ultimamente?

Renan Molin > Eu tenho uma grande inclinação para o universo das artes e isso afeta completamente o meu trabalho. Tento buscar sempre repertório no que a moda faz, por exemplo. Acho a moda o melhor cruzamento possível entre arte, negócios e comportamento. Quando você olha para o poder das campanhas da Benetton feitas pelo Toscani, ou do filme “O Primeiro Sutiã” do Olivetto para a Valisere, ou então o curta Francesca feito pela Publicis da Itália para a Diesel, a Lacoste criando filmes com mensagem extremamente simples e visualmente poderosa como o “Crocodilo Inside” e há pouco tempo atrás a Burberry com o remake da cena de dançando na chuva, você entende como a moda pode ser tão vanguardista na hora de fazer propaganda. E como ela consegue vender um produto usando arte e uma mensagem poderosa. Tento montar e atualizar meu repertório com aquilo que vai ao encontro da minha vontade de trazer referências mais artísticas e visuais para as pessoas. Acredito que só a arte pode aliviar um pouco essa pressão que é ser impactado a todo momento por mensagens de “compre”, “clique aqui”, etc. E na verdade a publicidade é exatamente sobre isso, usar a arte para criar desejo de compra, ou seja, não estou fazendo nada além do que as pessoas já fazem há mais de algumas centenas de anos.

360on > Você fundou a Taste e agora a Beatnik and Sons. O quanto você se considera um empreendedor e como tem sido essa experiência? Qual a importância para ti e para a marca a “produção de forma ética no Brasil”?

Renan Molin > Eu adoro criar coisas e acho que montar negócios é uma forma incrível de ser criativo, ainda mais no Brasil. Acho que a Taste me deu uma ótima base para estar preparado para montar a Beatnik. Durante os cinco anos de Taste eu estive mais à frente dos negócios com nossos clientes, tive que estudar e aprender o que fazia a roda girar para eles. E fui responsável por estruturar o núcleo de digital, mídia e planejamento da agência. São coisas que me deram uma base importante para não ser só um cara com uma ideia. Como diz o Renato Freitas, fundador da 99Taxi, “Ideia tem de bacia por aí, quero ver colocar de pé” e na Taste eu aprendi a me virar e pôr as coisas de pé, entender o que fazia elas ficarem de pé. A Beatnik nasceu DTC (canais de venda direta ao consumidor) e 100% online. Para você ter ideia, no primeiro ano quem fazia toda a parte de planejamento e execução de mídia digital era eu. Ou seja, não tem atalho, não tem caminho fácil e como eu não me considero um cara talentoso, eu sempre tive que trabalhar muito mais do que a galera ao meu redor para poder conseguir chegar nos lugares que eu queria chegar e isso te dá uma certa segurança na hora de empreender, porque você já sabe que não tem atalhos… É trabalhar mais que todo mundo para fazer virar.

 

360on > Ainda sobre a Beatnik and Sons… Considerando o nome e os produtos focados no viajante, deduzo que o pensamento da contracultura de Jack Kerouac, Ginsberg e Burroughs te acompanham. É de fato uma influência no teu trabalho ou apenas é um bom conceito de marca?

Renan Molin > Eu sou um grande fã do movimento Beatnik. No final de 2015, quando eu tinha vendido minha participação na Taste e estava no meio daquela crise de identidade profissional absurda, tudo que eu queria fazer era morar com uma mochila dentro de um ônibus. Nesse momento eu vendi tudo que tinha em casa, doei minhas roupas, entreguei meu apê e fui morar num Airbnb (que de contracultura não tem nada, sejamos francos, mas os tempos são outros). Nesse momento morar em uma mochila me pareceu algo muito correto, muito genuíno ao que eu vivia naquela fase e isso me inspirou a olhar para a mochila como um símbolo desse sentimento de não me sentir preso a algo que não fizesse mais sentido viver. Eu queria ampliar minha visão sobre o mundo e sobre aquilo que eu fazia. Foi aí que nasceu a Beatnik e com certeza o movimento Beatnik traduz de forma muito genuína essa intenção. Mas o mais surpreendente é que o nome foi uma coincidência muito feliz. Na verdade, foi a Beatnik quem me encontrou e não o contrário. O nome já existia e era registrado desde 2001 e funcionou como uma marca de bolsas até meados de 2005 quando faliu. No fim de 2015, durante a minha fase Airbnb way of life (estilo de vida em airbnb), eu fui apresentado para o antigo dono dela, que naquela época tinha uma fábrica que produzia brindes. Quando eu cheguei com o desenho da Terry e contei para ele sobre meu desejo de criar uma marca de mochilas para viajantes nômades, nós acabamos ficando amigos e ele me contou sobre a existência dessa marca. E tudo fez sentido. Então eu comprei a marca e refundei ela como Beatnik & Sons. Então é impossível negar que o movimento Beat faça parte do nosso trabalho na marca. A marca nasce com o espírito Beat e é umbilicalmente ligada a ele.

360on > O que mais te fascina na atual profissão?

Renan Molin > A possibilidade de trabalhar com as mentes mais talentosas e criativas do mundo. Nada supera a possiblidade de ter pessoas criativas 100% do tempo do seu lado.

 

360on > O design e a publicidade se transformam e evoluem muito rapidamente no mercado. É possível fazermos uma previsão do rumo que essas áreas tomarão nos próximos anos?

Renan Molin > Eu realmente não faço a menor ideia, mas acho que existem algumas tendências que a gente já consegue observar. Eu ouvi essa frase do Felipe Ribeiro, que por sua vez ouviu da lendária Susan Hoffman na W+K e isso sintetiza bem aquilo que tenho visto e sentido com essas mudanças. Ela falou algo mais ou menos como, “Tenho gostado cada vez mais de propaganda sem cara de propaganda”. Acho que criar conteúdos de entretenimento sempre fez parte do que a propaganda se propunha a fazer, mas com o tempo, propaganda virou uma fórmula e temos visto essa fórmula ser questionada com cada vez mais frequência. E meses atrás conversando justamente sobre isso com o Ribeiro, a gente falava sobre como criar conteúdo de qualidade continua sendo o core (o coração) do que a gente faz, o que precisa mudar e vai mudar é o formato de como fazemos isso e de como as pessoas se engajam com esses conteúdos. Mas não acredito que contar histórias de um jeito surpreende com um craft impecável esteja fora dos planos futuros da publicidade.

Set para campanha de Dia dos Pais de Havaianas

360on > Por favor, deixe um conselho para quem está começando a carreira no design e na publicidade?

Renan Molin > Eu só posso aconselhar com aquilo que funcionou para mim. Acho que vivemos tempos em que queremos ganhos rápidos com pouco esforço e isso é atalho, e para mim, atalho nunca existiu. Então trabalhe muito e muito mais que todos os outros. Se você nunca leu um anuário do D&AD ou do CCSP, comece hoje. Você tem que decorar todos os anuários possíveis e começar a decifrar o que faz aqueles trabalhos serem tão especiais.

Eaí, gostaram da entrevista?

 

Caso queiram conhecer um pouco mais da história e trabalhos do Renan.

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