“O jornalismo, o bom jornalismo, ético e isento, é fundamental para a população”
- Rosângela Servilheire.
8 de novembro de 2019
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POR:
Vinicius Carpes
Acadêmico de Jornalismo
POR:
Redação
360on
Rosângela Servilheire atua no jornalismo há 33 anos e carrega no currículo experiências do rádio, da TV, da mídia impressa, da web e das assessorias. Egressa do curso de Jornalismo e também da pós-graduação em Assessoria de Imprensa do Centro Universitário Univel, é uma apaixonada pela profissão. Rosângela não se vê fazendo outra coisa a não ser registrar a história por meio do Jornalismo.
Começou sua carreira profissional no rádio. Em 1987, estreou como locutora e redatora de notícias na Rádio Difusora de Ubiratã. Foram dois anos de muita experiência, até se mudar para Cascavel, onde seguiu na área nas rádios Cidade AM e Studio FM.
O destino quis que migrasse para outros formatos da mídia, mas em agosto de 2018 voltou ao rádio como repórter e produtora das emissoras Capital FM e CBN.
Na área de TV, foi repórter e editora da TV Carimã de Cascavel, de 1989 até 1997. De 1998 a 2013, trabalhou na TV Tarobá, em que foi repórter, editora, produtora e redatora. De 2014 a 2017, atuou na Catve, também como repórter.
No impresso, foi repórter da Gazeta do Paraná de 2001 a 2003 e na web, de 2014 a 2017, foi repórter do Portal Catve.
Atualmente, trabalha na Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura de Cascavel, como Assessora de Imprensa. Aliás, área em que também tem experiência. Rosângela foi assessora da Prefeitura de Araucária-PR, em 1998.
Durante a pandemia, em meio aos transtornos e dificuldades, existe novamente a valorização do Jornalismo para manter a população bem informada. Pois tudo que diz respeito à saúde pública neste momento, é ainda mais fundamental na sociedade. Rosângela está trabalhando muito e está feliz por poder desempenhar o bom jornalismo, que é, fazer o que ela ama.
Nestes anos todos, teve a oportunidade de cobrir e acompanhar as principais pautas do país, como as eleições presidenciais de 1989, a primeira no Brasil após a redemocratização, e que a colocou frente a frente com personalidades como Fernando Collor de Mello e Leonel Brizola. Entretanto, o mesmo esmero foi dedicado à história das pessoas simples, buscando sempre retratar a dignidade humana.
Sua humildade, mesmo depois de tanto tempo no jornalismo, é cativante. A maneira com que fala sobre cada experiência dentro da profissão faz com que qualquer um que pense em seguir os seus passos não tenha mais dúvidas sobre o que deve fazer.
A paixão pela área é realmente motivadora. E quem vos fala, é um futuro jornalista.
Com tamanha experiência, Rosângela Servilheire tem muita história para contar. E o 360on teve o prazer de ouvir.
Confira como foi a conversa:
1 – Quando você iniciou no jornalismo, a preparação para a profissão era diferente, já que poucos possuíam a formação na área. Você sentiu falta de uma base no início da sua carreira? E o quanto ser graduada em Comunicação Social e pós-graduada em Assessoria de Imprensa te ajuda atualmente?
Sim, senti falta de uma base, até porque eu nunca havia feito telejornalismo e nem sabia como ou o que fazer, saí da rádio, em Ubiratã, sem nenhuma base. Mas naquela época, haviam poucos profissionais formados, porque não tínhamos a disponibilidade da graduação, então, a nossa base era o rádio e a experiência dos profissionais com quem trabalhávamos. E, sim, ser graduada e pós-graduada me ajuda muito. Tenho noção do que deve ser feito e como deve ser feito, levando em conta tudo o que os professores me ensinaram enquanto estudante.
2 – Você possui muita experiência no jornalismo, já trabalhou como repórter, redatora, editora, locutora, assessora e passou por diversos veículos de comunicação. Como conseguir essa versatilidade na área da Comunicação? E, na sua opinião, qual é o diferencial do seu trabalho?
Penso que esta versatilidade se faz necessária na nossa profissão. Temos que conhecer cada área, para saber com a qual nos identificamos mais e também para aprendermos a respeitar mais o trabalho dos nossos colegas. Digo isso porque em todo o tempo estaremos dependendo do trabalho de um outro colega para realizar o nosso, seja ele nosso produtor, pauteiro, editor, assessor de imprensa… E esta versatilidade a gente só consegue com muita força de vontade de aprender. O diferencial do meu trabalho, na minha visão, é a doação, o amor com que cumpro cada pauta, independente de qual seja, o respeito pelos entrevistados e personagens, seja quem for.
3 – Como foi para uma menina de 19 anos saber que iria participar de um dos momentos mais importantes da história do Brasil, a eleição de 1989, a primeira depois do fim da ditadura? Como você se preparou?
Meu Deus, tremia, suava, não dormia. Fiquei muito tensa. Era minha primeira grande experiência. Foi incrível. Eu tinha uma equipe muito boa. O repórter cinematográfico que trabalhava comigo era muito experiente. Ele me acalmou, me deu muitas dicas. Chegando lá, contei com o apoio de muitos colegas mais experientes. E, daí, diante da responsabilidade de fazer o trabalho, respirei e fui. Foi maravilhoso, porque conseguimos entrevistas exclusivas, com o Leonel Brizola e a Zélia Cardoso de Mello, que mais tarde seria a ministra do presidente eleito Fernando Collor de Mello.
Ali, naquele dia, eu cresci, aprendi a encarar os desafios do jornalismo.
4 – Você entrevistou muita gente, de candidatos a presidência, a ícones da música e do esporte e também pessoas comuns. O quanto cada história que você escreveu mudou você como pessoa e profissional? Que história mais lhe impactou?
Nós estamos sempre aprendendo e cada história que a gente conta é uma lição. Eu aprendi muita coisa, aprendi a dar valor a cada vida, a cada pessoa, porque nós nunca sabemos ao certo a luta que cada uma enfrenta no dia a dia. Foram muitas as histórias que me fizeram parar e pensar, refletir. Mas penso que a mais chocante é a que me fez abrir os olhos para um problema tão comum entre os jovens hoje em dia, foi a morte de um estudante de medicina. Ele veio de fora, morar aqui e estudar. Tinha uma vida confortável com os pais, mas não aguentou a solidão e a pressão que sofria. Eu, até aquele momento, não entendia o porquê daquela atitude tão desesperada, de tirar a própria vida. De repente, me vi na mesma situação: sozinha, longe da família, muitas cobranças e cobranças que eu mesma me fazia e uma vontade enorme de acabar com tudo. Daí lembrei da carta que aquele jovem havia escrito. Procurei ajuda e venci e, principalmente, parei de fazer julgamentos.
5 – Depois de 32 anos trabalhando com o jornalismo, houve algum momento ou situação que fez você colocar em dúvida o seu próprio trabalho?
Não, nunca fiquei em dúvida. Sempre soube que era isso que eu queria para mim.
6 – Por um lado, temos o enxugamento das redações e a crise da credibilidade dos veículos tradicionais. Por outro, a abertura de novas áreas de atuação em função dos avanços das tecnologias. Qual a importância do jornalismo para a sociedade e como você avalia a profissão na atualidade?
O jornalismo, o bom jornalismo, ético e isento, é fundamental para a população. Todos têm o direito de saber ao certo o que acontece. Todos têm o direito de estar informados sobre a verdade dos fatos, assim as pessoas podem opinar, criticar, sugerir, confrontar, crescer. Mas, infelizmente, o que vejo hoje é o interesse comercial e financeiro falar mais alto nas redações. Vejo o desrespeito pelo bom jornalismo e principalmente pelos colegas de profissão pelo outro que está lendo, ouvindo ou assistindo ao telejornal. Vejo o uso indevido dos meios em prol de interesses particulares e financeiros.
7 – Qual o impacto das fake news no jornalismo profissional?
O impacto das “fake news” é muito grande e perverso. Na ânsia da exclusividade, do furo, não se checa a informação devidamente, publica-se, e, depois é que se verifica a veracidade daquela informação, mas aí muitas vezes é tarde demais, porque o estrago já está feito.
8 – Quais diferenciais são fundamentais para os novos profissionais do jornalismo?
Respeito, ética, amor pela profissão e dedicação.
9 – Considerando o atual contexto econômico, político e social brasileiro, que comportamento precisamos ter dos jornalistas? Como devemos atuar?
Penso que ter ética, ter respeito e responsabilidade é fundamental para o crescimento e reconhecimento profissional. Não importa o momento que o país atravessa. O que importa são os valores e princípios que adquirimos em casa, no ambiente acadêmico, no trabalho e na sociedade.